Livro escrito por professora de Xanxerê é entregue ao Papa Leão XIV e leva vozes do cárcere ao Vaticano

Em um gesto que atravessa muros, fronteiras e preconceitos, na manhã de 1° de julho, Dom Odelir José Magri, Arcebispo de Chapecó e presidente da CNBB Sul 4, entregou pessoalmente ao Papa Leão XIV, no Vaticano, o livro “Leitura e Cárcere: (entre) linhas e grades, o leitor preso e a remição de pena”, da professora e doutora em Linguística pela UFSC, Rossaly Beatriz Chioquetta Lorenset, de Xanxerê (SC).
A obra apresenta uma análise crítica e sensível da realidade do sistema prisional brasileiro. Nascida da vivência da autora com detentos no Presídio Regional de Xanxerê, durante um projeto de extensão universitária desenvolvido ao longo de cinco anos com o curso de Direito da Unoesc Xanxerê, a publicação aborda questões estruturais como desigualdade social, o funcionamento da justiça, as condições das unidades prisionais e, sobretudo, a leitura como instrumento de transformação e reconstrução do sujeito.
Rossaly, que também atua como secretária da Pastoral Carcerária Regional Sul 4, mantém presença constante no presídio, semanalmente, com a Pastoral Carcerária, propiciam leituras bíblicas com os detentos. Seu trabalho vai além da mediação literária: é também um gesto de escuta, acolhimento e fortalecimento da dignidade humana.Junto ao exemplar do livro, o Santo Padre recebeu três cartas escritas por 58 internos do Presídio de Xanxerê – uma de cada galeria. Em tom de fé e esperança, os textos expressam o desejo coletivo de que o Papa Leão XIV mantenha viva a luz do pontificado de Francisco, com especial atenção às pessoas encarceradas e aos marginalizados. “São vozes que costumam ser esquecidas pela sociedade, mas que agora chegam ao Vaticano pela força da palavra e da escuta”, disse Rossaly.

A autora afirma que ver sua obra nas mãos do Papa é uma conquista simbólica e profunda. “É a prova de que a leitura rompe grades, muros e chega a lugares onde menos se espera. Levar essas vozes ao Vaticano é um gesto de esperança e justiça simbólica”, afirma.
A entrega do livro reforça o papel transformador da educação dentro do sistema prisional e a importância do investimento em políticas que humanizem o cumprimento de pena. Ao ultrapassar as fronteiras físicas do cárcere e chegar até o líder máximo da Igreja, o gesto protagonizado por Rossaly e Dom Odelir reafirma que dignidade, escuta e reintegração são caminhos possíveis – e necessários – para uma sociedade mais justa.
Crédito foto: Vatican Media/Divulgação